A Terceira Pregação da Quaresma do Cardeal Cantalamessa

 “Eu Sou o Bom Pastor “A terceira pregação da Quaresma de 2024 do Cardeal Raniero Catalamessa, intitulada “Eu Sou o Bom Pastor”, aprofunda-se na figura de Jesus como o Bom Pastor, conforme apresentado no Evangelho de João (Jo 10,11-15). Cantalamessa destaca que, diferentemente de outras autoproclamações de Jesus que utilizam símbolos inanimados (como pão ou luz), a imagem do pastor é um personagem humano, ressaltando a relação pessoal e de cuidado de Cristo com a humanidade. O texto explora a imagem do Bom Pastor na arte e nas inscrições paleocristãs, onde Jesus é frequentemente retratado com a ovelha sobre os ombros, simbolizando a busca pela ovelha perdida (Lc 15,4-7). O Cardeal aborda a aparente dissonância da imagem do pastor e das ovelhas na sociedade moderna, que tende a rejeitar a ideia de ser conduzida. No entanto, Catalamessa argumenta que, paradoxalmente, a sociedade atual, através dos meios de comunicação de massa, vive uma massificação que a leva a ser guiada e manipulada, sem perceber, de forma semelhante a um rebanho.Para compreender a profundidade da imagem do Bom Pastor, o Cardeal remonta à história bíblica de Israel, um povo de pastores nômades. Ele enfatiza a relação quase pessoal entre o pastor e suas ovelhas, onde o pastor conhece cada uma delas e as ovelhas reconhecem sua voz. Essa relação serviu como base para Deus expressar seu cuidado pela humanidade, como exemplificado no Salmo 80,2: “Ó Pastor de Israel, dá ouvido, tu, que conduzes José, como a uma ovelha”. Catalamessa também contrasta a figura do Bom Pastor com a do mau pastor, presente no profeta Ezequiel (Ez 34,1ss), que denuncia aqueles que se alimentam do rebanho sem cuidar dele. A promessa de Deus de que Ele mesmo cuidaria de seu rebanho se cumpre em Jesus, que se autoproclama o Bom Pastor, superando todas as expectativas. A pregação enfatiza que Jesus não apenas guia e cuida, mas, de forma inédita na tradição bíblica, dá a vida por suas ovelhas. Um ponto central da pregação é a superação do medo através da figura do Bom Pastor. Cantalamessa explora como Jesus, ao exortar seus discípulos a não temer (“Não tenhas medo, pequeno rebanho” – Lc 12,32), oferece uma palavra eficaz que opera o que significa. Ele destaca que Jesus tomou sobre si os nossos medos, exemplificado em sua angústia no Getsêmani. A Carta aos Hebreus (Hb 4,15-16) é citada para reforçar que Jesus, tendo sido tentado em tudo, pode se compadecer de nossas fraquezas. Assim, Jesus é o verdadeiro “curador ferido” (wounded healer), que, ao redimir nossos medos e angústias, os transforma em oportunidades de crescimento.Finalmente, o Cardeal ressalta que a consolação do Evangelho vai além do exemplo de Jesus. A ressurreição de Cristo e sua promessa de estar conosco todos os dias (“Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” – Mt 28,20) oferecem não apenas um modelo, mas o meio para vencer a angústia: sua presença e graça. A experiência dos mártires, como Felicidade, e de figuras como Dietrich Bonhoeffer, ilustram a força dessa presença divina que permite superar o medo da morte e das adversidades, confiando no cuidado do Bom Pastor.